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Página:Contos em verso.djvu/233

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DONA ENGRACIA
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Dona Engracia era só! Nem um parente
No mundo conhecia.
Tinha tido um irmão, antigamente,
Praticando não sei que falcatruas,
Fugira para a America do Norte,
E nunca mais dera noticias suas,
Nem soube a irmã qual fôra a sua sorte.

O isolamento a certas almas serve:
Edifica, avigora, fortalece;
Faz com que o coração a flôr conserve
Da mocidade que desapparece;
A outras almas não serve: um’alma fraca
Co’a triste solidão não se conforma;
Soffre uma agitação que nada applaca
Nem suavisa, e logo se transforma.

Dona Engracia queria
Outro marido achar, e esta mania,
A mais perniciosa
Que póde entrar n’uma cabeça edosa,
Cobriu-a de ridiculo, coitada!

A principio mostrou-se apaixonada
Pelo primeiro poeta da cidade,
Que dos seus annos tinha só metade;
Mas o mancebo, frio e desdenhso,
Riu-se daquelle amor de velha tonta,
E um soneto lhe fez tremendo e iroso,
Que andou de mão em mão, de ponta a ponta.