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SEM BOTAS
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Linda mulher, ao lado seu sentada,
Olhares tão sensuaes lhe dirigia,
E com tanta insistencia,
Que elle, apezar da sua inexperiencia,
Pois que jámais se vira em taes assados,
Foi dos mais atirados,
E fez, com o cotovello e com o joelho,
Trabalho digno de um «bolina» velho.

A passageira bella
Saltou do bonde, e o Lopes, promptamente,
Tambem saltou (pudéra!) e foi traz della,
Sem saber em que bairro se encontrava,
Nem que rua era aquella,
Onde além delles, nem um cão passava,
— Rua deserta, silenciosa, escura,
Propicia a uma aventura.

Antes que o Lopes qualquer coisa diga,
Ella volta-se, e fala: — Por piedade
Os passos meus não siga.
Si não deseja a minha inf’licidade!
Hoje, só hoje, desacompanhada
Fui a sahir forçada
Por um negocio urgente.
Meu marido é doente,
E ha tres dias estamos sem criada.
Fez-me o senhor uma impressão profunda,
Por parecer-se com alguem que o somno
Eterno dorme n’uma cova funda: