Página:Contos em verso.djvu/93

Wikisource, a biblioteca livre
POR UM FIO!
75


Esperando encontrar um corpo de delicto
Que o confunda, que o ponha attonito, contricto.
— Biloca despertou-me aos berros! Tinha achado
Um cabello agarrado
A’ gola do meu frac! Era um cabello louro,
Um cabello gentil, mixto de seda e ouro.
Parecia, por Deus, cabello de senhora
Que viesse de fóra,
Ingleza ou allemã! — era um fio comprido:
Tinha seguramente um metro bem medido!
Um minuto depois de reflectir profunda
E socegadamente (O céo que me confunda
Se a verdade não digo!) achei que o tal cabello
— Não cabello, mas pello —
Da cabeça não foi de uma mulher bonita,
Mas da cauda de um burro!
E Biloca inda grita!
Dá-lhe o mundo rasão... e vão lá convencel-o
Que é pello e não cabello!

Toda a minha ventura eu trago por um fio!
Biloca diz que vae para casa do tio
(Já não tem pae nem mãe) e quer judicialmente
Separar-se de mim!... Ai, o banco da frente!...

Mais uma vez repito o meu conselho: evita
Andar de bonde, e quando acaso, por desdita,
Não puderes fazer outra coisa, não vás
Para o banco da frente e sim para o de traz.