Página:Contos fluminenses.djvu/104

Wikisource, a biblioteca livre

O dinheiro é d’esta menina, sua legitima herdeira, e não meu, que aliás tenho bastante.

— Isto é bonito, Anselmo!

— Mas o que não seria se não fosse isto?

A viagem á Europa ficou assentada.

Luiz Soares ouvio a conversa toda sem dizer palavra; mas a idéa de que talvez pudesse ir com o tio sorrio-lhe ao espirito. No dia seguinte teve um desengano cruel. Disse-lhe o major que, antes de partir, o deixaria recommendado ao ministro.

Soares procurou ainda ver se alcançava seguir com a familia. Era simples cobiça na fortuna do tio, desejo de ver novas terras, ou impulsos de vingança contra a prima? Era tudo isso, talvez.

Á ultima hora foi-se a derradeira esperança. A familia partio sem elle.

Abandonado, pobre, tendo por unica perspectiva o trabalho diario, sem esperanças no futuro, e além do mais, humilhado e ferido em seu amor-proprio, Soares tomou a triste resolução dos cobardes.

Um dia de noite o criado ouvio no quarto d’elle um tiro; correu, achou um cadaver.

Pires soube na rua da noticia, e correu á casa de Victoria, que encontrou no toucador.

— Sabes de uma cousa? perguntou elle.

— Não. Que é?

— O Soares matou-se.