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Página:Contos fluminenses.djvu/156

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coragem: não murmurou nem pedio, cumprio a ordem do marido.

Todavia Magdalena não era criminosa; o seu crime era uma apparencia; estava condemnada por fidelidade de honra. A carta e o retrato não lhe pertencião; erão apenas um deposito imprudente e fatal. Magdalena podia dizer tudo, mas era trahir uma promessa; não quiz; preferio que a tempestade domestica cahisse unicamente sobre ella.

Agora, porém, a necessidade do segredo expirára; Magdalena recebeu do Norte uma carta em que a amiga, no leito da morte, pedia que inutilisasse a carta e o retrato, ou os restituisse ao homem que lh’os dera. Esta carta era uma justificação.

Magdalena podia mandar a carta ao marido, ou pedir-lhe uma entrevista; mas receiava tudo; sabia que seria inutil, porque Menezes era extremamente severo.

Víra o médico uma noite no theatro em companhia de seu marido; indagára e soube que erão amigos; pedia-lhe pois que fosse mediador entre os dous, que a salvasse e que reconstruisse uma familia.

Não era pois sómente o amor de Estevão que soffria; era tambem o seu amor-proprio. Estevão facilmente comprehendeu que não fôra attrahido áquella casa para outra cousa. É verdade que a carta só chegára na vespera; mas a carta apenas