Página:Contos fluminenses.djvu/277

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tanto a voz do marido e as palavras da obra correspondião ao sentimento interior da moça.

No fim de algum tempo Azevedo deteve-se e perguntou :

— Queres que paremos aqui?

— Como quizeres, disse Adelaide.

— É melhor, disse Azevedo fechando o livro. As cousas boas não se gozão de uma assentada. Guardemos um pouco para a noite. Demais, era já tempo que eu passasse do idyllio escripto para idyllio vivo. Deixa-me olhar para ti.

Adelaide olhou para elle e disse:

— Parece que começamos a lua de mel.

— Parece e é, accrescentou Azevedo; e se o casamento não fosse eternamente isto, o que poderia ser? A ligação de duas existencias para meditar discretamente na melhor maneira de comer o machiche e o repolho? Ora, pelo amor de Deos! Eu penso que o casamento deve ser um namoro eterno. Não pensas como eu?

— Sinto, disse Adelaide.

— Sentes, é quanto basta.

— Mas que as mulheres sintão é natural, os homens...

— Os homens, são homens.

— O que nas mulheres é sentimento, nos homens é pieguice; desde pequena me dizem isto.