Página:Contos fluminenses.djvu/295

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— Não senhor, disse Emilia.

— Então, posso continuar a fumar?

— Póde, disse Adelaide.

— É um máo vicio, mas é o meu unico vicio. Quando fumo parece que aspiro a eternidade. Enlevo-me todo e mudo de ser. Divina invenção!

— Dizem que é excellente para os desgostos amorosos, disse Emilia com intenção.

— Isso não sei. Mas não é só isto. Depois da invenção do fumo não ha solidão possivel. É a melhor companhia d’este mundo. Demais, o charuto é um verdadeiro Memento homo: convertendo-se pouco a pouco em cinzas, vai lembrando ao homem o fim real e infallivel de todas as cousas: é o aviso philosophico, é a sentença funebre que nos acompanha em toda a parte. Já é um grande progresso... Mas estou eu a aborrecer com uma dissertação tão pesada. Hão de desculpar... que foi descuido. Ora, a fallar a verdade, eu já vou desconfiando; Vossa Excellencia olha com olhos tão singulares...

Emilia, a quem era dirigida a palavra, respondeu:

— Não sei se são singulares, mas são os meus.

— Penso que não são os do costume. Está talvez Vossa Excellencia a dizer comsigo que eu sou um exquisito, um singular, um...

— Um vaidoso, é verdade.