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dade espirito mais frivolo. A mãi ria-se de tudo quanto o filho dizia; o filho enchia, só elle, a conversa, referindo anecdotas e reproduzindo ditos e sestros do Alcazar. Mendonça via todas essas feições do rapaz, e aturava-o com resignação evangelica.

A entrada de Jorge, animando a conversa, accelerou as horas; ás dez retirou-se o medico, acompanhado pelo filho de D. Antonia, que ia ceiar. Mendonça recusou o convite que Jorge lhe fez, e despedio-se d’elle na rua do Conde, esquina da do Lavradio.

N’essa mesma noite resolveu Mendonça dar um golpe decisivo; resolveu escrever uma carta a Margarida. Era temerario para quem conhecesse o caracter da viuva; mas, com os precedentes já mencionados, era loucura. Entretanto, não hesitou o medico em empregar a carta, confiando que no papel diria as cousas de muito melhor maneira que de boca. A carta foi escripta com febril impaciencia; no dia seguinte, logo depois de almoçar, Mendonça metteu a carta dentro de um volume de George Sand, mandou-o pelo moleque a Margarida.

A viuva rompeu a capa de papel que embrulhava o volume, e pôz o livro sobre a mesa da sala; meia hora depois voltou e pegou no livro para ler. Apenas