Página:Contos fluminenses.djvu/97

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É verdade que se esta resolução era contraria á primeira, podia ter por causa o cansaço que lhe ia produzindo a vida que levava. Além de que, d’esta vez, a riqueza não se fazia esperar; era entregue logo depois do consorcio.

— Trezentos contos, pensava o rapaz, é quanto basta para eu ser mais do que fui. O que não hão de dizer os outros!

Antevendo uma felicidade que era certa para elle, Soares começou o assedio da praça, aliás praça rendida.

Já o rapaz procurava os olhos da prima, já os encontrava, já lhes pedia aquillo que recusára até então, o amor da moça. Quando, á mesa, as suas mãos se encontravão, Soares tinha o cuidado de demorar o contacto, e se a moça retirava a sua mão, o rapaz nem por isso desanimava. Quando se encontrava a sós com ella, não fugia como outr’ora, antes lhe dirigia alguma palavra, a que Adelaide respondia com fria polidez.

— Quer vender o peixe caro, pensava Soares.

Uma vez atreveu-se a mais. Adelaide tocava piano quando elle entrou sem que ella o visse. Quando a moça acabou, Soares estava por trás d’ella.

— Que lindo! disse o rapaz; deixe-me beijar-lhe essas mãos inspiradas.