Página:Contos gauchescos (1912).djvu/202

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no coração quando a gente pensava que o doninho andava por esse mundo, de gaudério e teatino... como cachorro chimarrão, comendo de esmola algum soquete ordinário e tinindo de frio, sem ao menos um bichará esburacado...

E sempre buenaça; mal chegava um andante, mandava logo um piá levar-lhe um mate, e ainda, à noite, água para os pés; e de manhã, quando a gente ia agradecer a pousada, lá vinha um naco de queijo ou meia vara de lingüiça, para fiambre, e outro amargo, pra o estribo...

Quem sabia do caso até nem falava nele... era tão penaroso o sofrer daqueles velhos, que não diziam nada, que a gente entendia tudo...

E não havia hospe que tivesse comido daquela mesa ou dormido naquele teto, que não desejasse ser ele que pudesse um dia topar o guri desguaritado e trazê-lo, para o colo que esperava sempre e que rezava sempre ao Nosso Senhor Jesus-Cristo, que, sendo Deus, morreu perto da sua mãe...

A velhita finou-se primeiro, e de pura pena foi por certo.