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CONTOS PARA A INFANCIA
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— «Vejo uma luz, disse João, mas não é do sol, é d'uma lanterna. Provavelmente ha ali alguma casa, onde nos poderiamos recolher o resto da noite.»

Foi acceita a proposta. Partiu a caravana; foi andando, andando, atravez dos campos, até que parou junto da casa do guarda d'um grande castelo, d'onde subiam gargalhadas, gritos confusos, cantos grosseiros e blasphemias horriveis.

— Escutem, disse João; vamos devagarinho, muito devagarinho, a ver quem é que está lá dentro.»

Eram seis ladrões armados de pistolas e de punhaes, que se banqueteavam alegremente, sentados a uma mesa principesca.

— «Que bom assalto acabámos de dar, disse um d'elles, ao castello do conde, graças ao auxilio do seu porteiro. Que bom homem que é este porteiro. Á sua saude!»

— «Á saúde do nosso amigo!» repetiram em coro todos os ladrões.

E d'um trago despejaram os copos.

João voltou-se para os companheiros, e disse-lhes em voz baixa:

— «Uni-vos uns aos outros o melhor que puderdes, e, assim que vos der signal, rompei todos ao mesmo tempo n'uma gritaria diabolica.»

O burro, levantando-se nas patas trazeiras, lançou as mãos ao peitoril d'uma janella, o cão trepou-lhe á cabeça, o gato á cabeça do cão e o gallo á cabeça do gato. João deu o signal, e estoirou á uma o ornear do jumento, os latidos do cão, o miar do gato e os gritos estridentes do gallo.