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CONTOS PARA A INFANCIA

das; e o resto é para ir juntando algumas economias.»

Era um novo enigma para o principe. Mas o alegre camponez explicou-lh'o d'este modo.

«Reparto quanto ganho com os meus velhos paes, que já não podem trabalhar, e com os meus filhos, que ainda não teem força para isso. Aos primeiros pago-lhes o amor de que me deram tantas provas na minha infancia; e espero que os segundos não me abandonem, quando os annos tiverem pesado sobre mim.»

O principe, ouvindo isto, quiz premiar o honrado camponez; encarregou-se da educação de seus filhos; e a benção que lhe deram os seus velhos paes, os seus filhos merecerem-a depois pela sua vez, rodeando egualmente a sua velhice de cuidados piedosos e da mais terna dedicação.

Mas posso desgraçadamente citar-vos outro filho, que procedeu d'uma maneira tão indigna com seu velho pae doente e aleijado, que este teve de pedir que o levassem para o hospital da misericordia. O filho ingrato recebeu com alegria o desejo do infeliz velho, que n'essa mesma tarde foi conduzido ao hospital. Como este estabelecimento de caridade fosse muito pobre, decidiu-se o velho a mandar pedir a seu filho, como ultima esmola, um par de lençoes, para cobrir a palha que lhe servia de leito. O mau filho escolheu os lençoes mais usados, e disse ao seu pequeno, de dez annos d'edade, que os fosse levar a esse velho rabujento. Mas notou que a creança ao partir tinha escondido um dos lençoes a um canto, atraz da porta.