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CONTOS PARAENSES
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vivo de tua mãe. Por um phenomeno de impressionismo, — sem o querer, sem o sentir — fui-me enlevando das graças d’ella, até chegar ao ponto de pensar que tua bôa mãe tornára á vida e volvêra a amar-me como d’antes!

Quando eu ia á villa, hospedava-me em casa d’esse antigo companheiro. Tal convivencia maior augmento deu ao meu amor, que transformou-se em grande paixão, toda enthusiasmos e vehemencia. As fazendas de Chaves faziam com que o marido d’ella se ausentasse muitas vezes da villa, deixando-me ao lado da mulher que.... poupa-me a vergonha de communicar-te que.... titubeou o coronel, muito triste, com os olhos mareados de lágrymas, a arfar do peito e a contrahir o rosto n’uma visivel agonia causada pelos remorsos.

— Emfim, — disse com energia e, desta feita, dando expansão ao pranto, — o resultado d’essa criminosa, d’essa infame e baixa paixão, foi o nascimento d’uma menina, que o meu velho amigo ingenuamente suppoz ser sua filha....

— E essa menina é... Ve..nan..cia? — inquiriu Thiago com os olhos arregalados, os cabellos crispados, as mãos fechadas fortemente, sentindo fraquejar-lhe o espirito ao embate de tamanha commoção.

— Sim, Thiago, sim, é Venancia, fructo da minha infamia, a filha do crime, a filha d’um amigo traidor e d’uma esposa miseravel