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CONTOS PARAENSES
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deram causa á correspondencia criminosa.

Havia já alguns mezes que o amor dos dois não tivéra outras expansões além d’aquellas missivas platonicas. O temperamento de Jacyntho era mais exigente.

Uma tarde de dezembro, o sr. Bonifacio descia do bond em frente de casa, de volta d’uma visita que fôra fazer a seu chefe de secção. Transpondo o limiar da porta, encontrou a mulatinha que saía apressadamente, escondendo mal entre as dobras do vestido um objecto que attrahiu-lhe a attenção de velho curioso.

— Que levas ahi? — perguntou.

— Não é nada.... — respondeu a rapariga n’essa voz cantada peculiar aos paraenses.

— Não mintas! Eu vi não sei quê! — bradou o sr. Bonifacio puxando-a pelo braço e apoderando-se do objecto.

Era um bilhete. Abriu-o, assestou-lhe os oculos e leu:

 

"Meu amigo, depois d’amanhã, á meia noite, meu marido vae ouvir a missa do gallo em Sant’-Anna. Finjo-me adoentada para ficar em casa, afim de conversar comsigo e saber d’essa novidade que prometteu contar-me. Venha á 1 hora. Acautelle-se bem; que ninguem o veja.

ELVIRA