Página:Contos paraenses (1889).pdf/76

Wikisource, a biblioteca livre
70
MARQUES DE CARVALHO

discretamente cerradas... Uma lámpada com vidros baços, côr de leite, esparze branda luz em torno, sem crepitação, n’uma solenne impassibilidade, que dá certo ar magestoso ao silencio do recinto.

Dois pares de pantufos de sêda branca escancaram as cavas como n’um bocejo, sobre a fina alcatifa azul, aos pés da cama.

Em cima do leito, abandonada, a grinalda de flôres de larangeira repousa meio escondida sob um lenço de fina baptista com um monogramma bordado.

Ha quinze minutos que a noiva penetrou no quarto, muito pállida e trémula, seguida pela madrinha, e atirou sobre aquella cadeira preguiçosa o elegante espartilho e o corpinho de labyrintho....

Ha quinze minutos a joven Paula, toda transida ante os mysterios que se lhe antolhavam na vida que ia começar em breve, deixou-se escorregar pelos finos lençóes e descançou a bella cabeça de paraense morena, em cima do travesseiro macio como a flôr do algodoeiro....

E ha dez minutos apenas que o seu noivo, o seu querido Alfredo, entrou a passos leves, amoroso, cheio de grandes anceios, com os labios contrahidos n’um leve rictus de satisfação, de ventura.

Dez minutos antes, elle descerrara as cortinas que se fechavam n’uma pudicicia, e murmurara baixinho, todo emocionado:

— Permittes?....