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incitando-o a uma tentativa agradavel de roubo de um ósculo. O colete, que elle enfiava n’esse instante, assumia a apparencia de uma dentadura mordendo-lhe nos hombros, perto dos quaes pulsava o coração, arfando em anhelos. E, quando o padrinho appareceu entre as coiceiras da porta, para lembrar-lhe que já era tempo de ir para a egreja, estava tão abstracto da vida regular, tão concentrado em suas phantasiosas meditações, que abraçou-o commovido, murmurando:

— Que bella dentadura, que tens!

III

 

Na egreja e á ceia opipara que seguiu-se á ceremonia religiosa em casa do velho pae de Paula, durante a longa e — para elle, — enfadonha conversação subsequente na sala, sob a claridade dos muitos candelabros, Alfredo só pensava na dentadura da noiva, enterrado n’uma poltrona, com a fronte meditativa, que fazia os convidadas murmurarem baixinho, ao ouvido, com um sorriso eloquente por traz do lenço amarrotado