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CONTOS PARAENSES
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que formam a serrana freguezia. Então, levanta-se ás pressas, monta a cavallo e lá vae montanhas fóra, a galope, ladeando tenebrosos precipícios, sob a chuva, tiritando de frio, impassivel como um heróe e contente comsigo mesmo, sentindo-se alegre por ir cumprir um dos mistéres que lhe impõe a sua profissão, tão bem comprehendida por sua bella alma!

Nada o assusta, nada o intimida, pois tem a certeza de que todos aquelles montanhezes simplorios amam-n’o sinceros e respeitam-lhe os conselhos de paz e bondade.

Quando começou o movimento abolicionista na Fortaleza, o recto sacerdote arvorou-se em defensor dos escravisados na sua modesta parochia da serra de Baturité. Em poucos mezes, graças a seus esforços e á illimitada sympathia que a todos inspira, as aldeias sob o seu vicariato não tinham um sêr captivo: todos eram eguaes!

Quando sae de casa, encaminhando-se á pequena egreja, cuja torre branca de neve lança-se para o firmamento no alto de verdejante collina, as creancinhas, que bricam ás portas das casas, acodem a beijar-lhe a mão e as mães saudam-n’o respeitosas, balbuciando uma benção....

Aos domingos, á prédica do Evangelho, vi-o, por differentes occasiões, fazer com a uncção de sua palavra, que as lágrymas borbulhassem nos olhos dos assistentes. Domina-os a todos com o seu irreprehensivel