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DA FRANÇA AO JAPÃO

a revisão do tratado de commercio de 1869 pelo Governo Imperial da China, representado pelo Principe Kong e outros personagens ao Ministro de S. M. Britannica, com o fim de reprimir o consumo do opio; já augmentando os direitos da importação, ou os de exportação nos mercados inglezes; o governo de Londres, tendo á frente o Sr. Gladstone, foi surdo a esta justa petição, verdadeiro brado de indignação da sociedade illustrada da China [1].

O desmedido amor de riquezas, que ninguem poderá desconhecer nos inglezes, é a causa unica de toda a sorte de iniquidades, praticadas por estes homens nos paizes asiaticos. Esquecem-se até, que elles fazem parte da humanidade e collocando-se fóra da communhão dos entes racionaes, julgão-se legitimos senhores dos bens da terra, e pela força se apossão do alheio, em nome de uma liberdade que a mór parte delles, no seu proprio paiz nunca conhecerão, vivendo na miseria e com um desfaçamento de costumes mais degradante do que tudo que a esse respeito se tem observado entre os selvagens.


  1. Eis em que termos foi concebida a reclamação dos commissarios chinezes:

    «De Tsungli-Samen á Sir R. Alcock, Julho de 1869. — Os abaixo assignados, já por varias vezes, ao conversarem com S. Ex. o Ministro Inglez têm-se pronunciado sobre o negocio do opio como altamente prejudicial aos interesses do commercio da China. Tiverão em vista os tratados entre nossos respectivos paizes firmar uma paz duradoura; mas, se é impossivel adoptar medidas que affastem do espirito publico uma interpretação por demais affrontosa, será de recear que nenhuma politica consiga remover as causas de futuros disturbios. Se ha desejo sincero de cortar o mal pela raiz o de estancal-o em a sua origem, nada será mais efficaz do que uma prohibição igualmente decretada por ambas as partes. Ao passo que os negociantes chinezes fornecem, ao paiz que representais, excellente chá e seda, beneficiando-o portanto, os negociantes inglezes envenenão a China com o pestifero opio.

    «É injusto tal procedimento. Quem o justificará? Que admiração se todas as nossas classes accusarem a Inglaterra de pretender a ruina da China; e disserem que nenhum sentimento amigavel para comnosco a anima?

    «Todos fallão na riqueza e generosidade da Inglaterra. Sabem o cuidado com que ella previne e antecipa tudo quanto possa prejudicar os seus interesses commerciaes. Como é, pois, que a Inglaterra hesita em remover um mal reconhecido como tal? Não é possível que a Inglaterra persista ainda neste máo negocio, arrostando o odio de todas as classes a China e tornando-se alvo das censuras das outras nações, só, porque,