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DA FRANÇA AO JAPÃO
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Como nós partimos da cidade de Uzangué [1], e do que nos aconteceu, até chegarmos á ilha de Tanaxumá [2], que é a primeira terra do Japão.

«Com alvoroço, o contentamento, que se pode imaginar que teriamos no cabo de tantos trabalhos, e desventuras, como até então tínhamos passado, do que por então nos viamos livres, nós partimos d’esta cidade de Uzangué a 12 de Janeiro, e fizemos nosso caminho por um grande rio de agua doce de mais do uma legua em largo, levando a proa a diversos rumos, por causa das voltas que o rio fazia; vendo sempre por espaço de sete dias, que por elle corremos, muitos e mui nobres logares, assim villas como cidades, que segundo o apparato de fóra, parecia que devião do ser povos ricos, pela sumptuosidade dos edifícios, que nelles se vião assim de casas particulares, como de templos com curuchéos cosidos em ouro, e pela grande multidão do embarcações de remos, que ali se vião com toda a sorte de mercadorias, e mantimentos em muita abundancia. Chegando nós a uma Cidade muito nobre, que se dizia Quangeparú [3], quo teria quinze, ou vinte mil visinhos, oNaudelum, que era o que por mandado d’El-Rei nos levava, se deteve n’ella dose dias fazendo sua veniaga com os da terra a troco de prata, e de perolas, em que nos confessou que de um fizera quatorze; mas que se levara sal, se não contentara com dobrar o dinheiro trinta vezes. Nesta cidade nos affirmarão que tinha El-Rei de renda todos os annos, só das minas de prata, dois mil e quinhentos picos, que são quatro mil quintaes; e fóra esta renda, tom outras muitas cousas differentes.

«Esta cidade não tem mais força para sua defensa, que só um fraco muro de tijolo de oito palmos dos meus de largo,


  1. Segundo o que se segue na narração de F. Mendes Pinto esta cidade é hoje conhecida pelo nome de Fuchnang o que está de accordo com a tradição japoneza.
  2. Hoje Tenegasimá.
  3. Quanhiabanbong.