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DA FRANÇA AO JAPÃO
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una voce, perguntavão qual era a natureza d'este Principio, se bom ou mão, e se os bens e os males delle provinhão?

«Se este primeiro soberano autor fosse perfeitamente bom, dizião elles pela boca de Fucarandono, sem nenhuma mistura do mal, não poderia orçar demonios, inimigos dos homens e maus por sua natureza; e se ha um Deos que se vinga de suas creaturas, não póde ser chamado bom por excellencia, mas cruel. Se elle creou os homens para o honrar não deveria consentir que elles fossem tentados nem lhes dar fraqueza e inclinação para o mal. Um Deus bom e misericordioso poderia crear um eterno inferno e ao mesmo tempo impór aos homens leis tão rigorosas e de tão difficil observância?

Poderia elle assistir ao espectaculo doloroso dos condemnados sem deixar-se sensibilisar? Nossa religião é mais philosophica. Admitte que os Deoses retirão do inferno aquelles que implorão sua clemência. É uma doutrina mais bem fundada do que a vossa tanto sobre a justiça como sobre a piedade.»

O padre Xavier esforçava-se em destruir uma por uma estas objecçõos intelligentes, ainda que baseadas sobre apparente verdade, o dispondo de verdadeira eloquencia e dos conhecimentos perfeitos da lingua Japoneza, obteve os applausos geraes da assemblea que assistia a essas discussões.

Durante cinco dias, discutirão diversas questões capitaes da nossa religião, e quando o Padre fallou sobre a immortalidade da alma, crença que não alimenta nenhum interesse mundano, foi que elle ganhou todos os corações e fez numerosos proselytos.

No fim d’este tempo o Rei encerrou os debates e subindo ao throno julgou de accordo com todos os assistentes que a religião do estrangeiro era mais conforme com a verdade, a razão e o senso commum, do que a dos bonzos a quem dirigindo-se em seguida, disse: «Ide, retirai-vos, depois do que ouvistes tratai de ser homens de bem.»

Em outro qualquer paiz que, como o Japão, subsistisse sob