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DA TERRA Á LUA
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Tudo isto deu causa a que, durante a terrivel lucta entre os partidarios do norte e os do sul, occupassem os artilheiros em toda a parte o primeiro logar; celebravam-lhes os jornaes da União os inventos com enthusiasmo, e sem exceptuar o mais insignificante dos logistas ou o mais ingenuo dos booby[1], todos quebravam a cabeça dia e noite a calcular trajectorias impossiveis.

Ora quando a uma cabeça de americano acode uma idéa, busca logo o seu possuidor segundo americano que a acceite: chegam a tres, elegem logo presidente e dois secretarios; quatro, nomeiam archivista e funcciona a mesa; cinco, convocam-se em assembléa geral, e está constituido um club. Assim succedeu em Baltimore.

O primeiro que inventou um novo canhão associou-se com o primeiro que o fundiu e com o primeiro que o perfurou. Tal foi o primitivo nucleo do Gun-Club[2], que um mez depois da sua inauguração contava mil oitocentos e trinta e tres socios effectivos, e trinta mil quinhentos e setenta e cinco socios correspondentes.

A todos que queriam fazer parte da associação era imposta uma condição sine qua non, a de ter inventado, ou pelo menos aperfeiçoado, um canhão; na falta de canhão uma arma de fogo qualquer. Mas, para dizer a verdade inteira, bem pouca consideração gosavam os inventores de revolvers de quinze tiros, de carabinas girantes ou de sabres-pistolas. Em tudo lhe levavam os artilheiros primazia.

A estima de que é credor qualquer socio, disse um dia um dos mais entendidos oradores do Gun-Club, é proporcional «ás massas» do canhão que inventou, e está «na rasão directa do quadrado das distancias a que alcançam os respectivos projectis ! »

  1. Papalvo.
  2. Litteralmente, «club-canhão». Pelo sentido, club dos artilheiros.