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Santo Agostinho

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De Magistro


TEXT IS ANN VS 389 - LIBER VN VS
SANCTI A VRELII AVGVSTINI
EPISCOPI HIPPONENSIS


Lateinisch/Deutsch
Herausgegeben von
Burkhard Mojsisch
Stuttgart-1998


I

1.Augustini - Quid tibi videmur efficere velle, cum

loquimur?

I - Concepção agostiniana
de linguagem

1.Agostinho - O que compreendes desejarmos

fazer ao falarmos[1]?

  1. Agostinho desde o início do Capítulo I apresenta sua concepção de linguagem, admitindo que esta tenha sido instituída com a finalidade senão de ensinar e para aprender, através dos sentidos e do pensamento. O verbo loquor aparece na Vulgata 139 vezes como uma fala comprobatória divina, Locutio dei attestans. Está intimamente ligado à loquens, que significa falar de forma expressiva. Todos são derivados de Locutio, o deus da fala, eloquentia (eloquência) dom da palavra; eloquium (discurso); eloquor (exposição, revelação, explicação); este último de muita afinidade com a intenção de Agostinho na conversa com Adeodato. Veikko Väänänen para a tradução de loquor afirma: "El latín del que son continuación las lenguas romances se encuentra en franco desacuerdo con la forma literaria y sobre todo clásica. Quien quiera explicar expresiones romances como foie, tête o parler, no debe acudir a iecur, caput y loqui, transmitidos por la literatura romana" (1968, p. 27). A citação de Väänänen se justifica para explicar uma dificuldade que encontrei na tradução de De Magistro, porque Agostinho utiliza ao longo de todo o seu discurso o verbo latino loquere, pertencente à forma depoente, uma característica do latim que se configura pelo uso da forma verbal na voz passiva, no entanto, com o significado de voz ativa. Esta construção verbal pressupõe uma performance linguística em que a fala se constitui numa ação mediada, consistindo em sublinhar a existência de um circuito locutório, no qual os papéis de sujeito falante e de ouvinte são permutáveis. O simplesmente falar estaria mais bem representado em latim por aio, ligado ao latim vulgo ou até mesmo por dico; porém, estes dois verbos não pressupõem um sujeito agente, enquanto loquor (eu falo) solicita tanto um sujeito agente mediador quanto uma ação mediada. Considerando que em português não temos uma palavra específica para a tradução deste sentido de loquere, traduzi-o por falar, muito embora dentro do contexto, na tradução, sempre tenha sido considerado uma fala mediatizada.