Página:Dentro da noite.djvu/75

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deixar de assistir O barão, de veia, com a sua voz de navalha, recortava na pele dos presentes as caricaturas perversas. Nós já tínhamos rido muito e entrávamos com apetite num vulgaríssimo salmis de coelho, quando de repente um dos nossos companheiros exclamou:

- Olha, a chilena aqui!

À porta surgiu uma triunfal figura de Céres, com o cabelo cor-de-ouro e o verde olhar coado por umas negras pestanas de azeviche. O seu lindo corpo era como que modelado pelo vestido de Irlanda e rendas verdadeiras. Nos dedos afilados e tênues, como as pétalas esguias dos crisântemos, três ou quatro pérolas rosas; nos lóbulos das orelhas, duas negras pérolas e por sobre a gola leve de rendas brancas um virginal colar de pérolas. Acompanhavam-na um cachorrinho branco de neve, de focinho impertinente, e um cavalheiro, baixo, gordo, cheio de jóias, enfiado num redingote azul.

- A chilena! A chilena aqui! Mas que sociedade é esta? bradou o mais jovem dos convivas.

O barão teve um sorriso cético.

- Meu caro, o Rio tem, como Paris ou Londres ou mesmo Montevidéu, a sua season. A season começa regularmente com a chegada do primeiro mambembe estrangeiro, mambembe naturalmente insuportável, e fecha com os calores da primavera, na abertura do salão de pintura. É a época do luxo, da exibição, do sacrifício para aparecer, da tagarelice,