vista por Marta
M. da Camara
Aí por 1924, numa tarde luminosa e enternecidamente poética de Setembro, uma destas tardes em que o céu entorna sobre a terra, prodigiosamente, as suas ultimas migalhas de oiro, eu tive ensejo de conhecer essa gentilissima figura de mulher que foi Maria Eugenia Haas da Costa Ramos.
Foi-me apresentada por meu pai, na sua casa da rua Nova do Loureiro. Tenho presentes na memoria, como se essa visão fosse de ontem apenas, a graça da sua figura, a dôce melancolia dos seus olhos enormes e profundos e, sobretudo e acima de tudo, um ar supremo de desprendimento e modestia que eram o maior penhor de conquista para quantos a abordassem.
Quando ela saíu, meu pai teceu-lhe os maiores elogios em palavras que conservo na memória: «A Mimi Haas é um talento. As suas crónicas publicadas no Correio da Manhã sob a epígrafe de «Pedras Falsas», são verdadeiras joias do maior apreço... E tão grande o seu valor como a sua modestia!»
Dobou o tempo, passaram-se os anos neste torvelinho insano que nos arrasta insidiosamente e com tal perversidade que nos faz parecer, por vezes, eterno o espaço de uma hora, para se assemelhar á fulguração de um instante quando olhamos para traz a interrogarmos, surpresos, sôbre a rapidez da Vida...
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