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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/225

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Diana de Liz: Memorias


 

«O' vós todos que passais, atendei e vêde se ha dor igual á minha...»

De facto, é dificil encontrar uma antecâmara de dôr onde se sinta mais intensa, perduravel e cruciante a mágua da Saudade!

Ainda pertenço ao grupo, cada vez mais restrito e feliz, das mulheres que acreditam no vinco da superioridade que sublinha a inteligencia do homem e o põe, para nossa ventura, em plano superior donde possa debruçar-se sobre a nossa vida, realizando a imagem da árvore que dá sombra, do manto que abriga, da voz que comanda, do braço que protege... Como mulher, sinto que esse vinco de superioridade nos foi equiparado por um dom de presciencia, uma especie de sexto sentido que afina pela sensibilidade de cada alma feminina. E porque assim o creio, foram bem sentidas as lagrimas silenciosas que me arrancou o prefacio de Ferreira de Castro.

Há nada que comova mais uma mulher como vêr chorar um homem?

Atravez de essas paginas senti ainda como devia de ter sido dificil o arrancar da vida de quem na vida tinha raizes tão profundas!

Não há nada melhor do que sentirmo-nos amados, é certo, mas haverá dôr mais cruel do que partir para a viagem de onde se não volta, deixando no mundo, a sofrer, a melhor parte do nosso coração, debatendo-se como uma aza presa e constantemente lacerada na ansia de voar?

 

Pedras Falsas, quer nos seus «Dialogos Novelescos», quer nas suas «Cartas Femininas», quer nas suas «Pequenas Novelas», quer nas suas espirituosas «Crónicas», é a obra de um altissimo interesse, que fica como monumento indestrutivel á memoria saudosa de Maria Eugenia Haas da Costa Ramos.

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