Saltar para o conteúdo

Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/25

Wikisource, a biblioteca livre
duma mulher da epoca


intelectualisadas e transcendentais, Sintra, a vetusta e maravilhosa Síntra exerce uma extranha influencia sôbre os meus nervos e o meu cerebro.

Passeámos lentamente, emudecidos e de alma encantada, por àleas ainda floridas; eu desejaria encontrar-me sozinha com o Vasco, ali, naquele cenario de penetrante beleza. A presença de meus pais pareceu-me, ontem, pela primeira vez, incomoda, inoportuna e advinhei que no espirito de Vasco haviam surgido pensamentos identicos aos meus.

Descançamos em recantos ensombrados, perto dos quais corria, ondeante e sussurrante, um fio de água que lembrava prata nova em fusão. Mais tarde, caído o crepusculo, regressámos ao centro da vila, trazendo os agasalhos cingidos e o apetite desperto.

O jantar estava ótimo e eu, á sobremesa, tinha fortissimas tentações de abraçar Vasco, mesmo deante de toda a gente que lá se encontrava. Era pouca: uns récem-casados, segundo parecia; dois sujeitos idosos, três rapazes em grupo e nós. O vinho estonteou-me um tanto ou quanto e, provavelmente, foi por isso que me apareceram no cerebro idéas tão exoticas. Tive um grande desejo de me sentar na beira da mêsa, baloiçar os pés e espalhar pelo chão as pétalas dos crisântemos que a adornavam. Custou-me conter-me. Vasco disse-me: «Tens um brilho nos olhos!»

— 23 —