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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/36

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Diana de Liz: Memorias


Já sou alguem. Vasco não gosta de que eu saia só; trata-se, por isso, duma excepção e, ainda assim, porque meus pais moram perto. Meu marido já me disse oh, absoluta, que tem toda a confiança em mim ― nem podia deixar de ser! ― mas como sou nova e bonita, não quere que alguem tenha ensejo de murmurar.

Abracei-o, quando lhe ouvi isto, mas a verdade é que teria ficado mais satisfeita se não se mostrasse tão convencido do meu grande amor por ele. Esta mania que os homens têm, de se julgarem amados com loucura! Eu amo sinceramente meu marido; se a vida de casada me parece um tanto insipida, não é, certamente, culpa sua ― nem tão pouco minha; são coisas independentes da nossa vontade. Mas não acho bem que ele me dê a entender que esse amor era inevitavel. E se eu deixasse, amanhã, de o amar?

2 de janeiro.

Estivemos ontem, á noite, em casa de meus pais, com algumas pessoas de amizade. Foi lá, pela primeira vez, um casal que me surpreende. O marido travou, há meses, conhecimento com meu pai. É um belo rapaz de trinta e cinco anos, talvez; é alto e desempenado. A mulher, uma morena nervosa, de olhos de fogo, deve ter cerca de vinte e oito anos.

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