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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/51

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Segunda parte
 

Novembro, segunda-feira, 12.

Deparou-se-me, hoje, este caderno, esquecido ingratamente no fundo duma gaveta durante quasi seis anos. Chego a não saber como perdi o meu antigo habito de transmitir todos os pensamentos e impressões a este confidente de alvas páginas acolhedoras, que a minha pena ia a pouco e pouco preenchendo, quer num movimento lento, nos dias de tristeza, quer febrilmente, em horas de perturbação. Esse habito que era, afinal, o melhor, o unico meio de desabafar, sem inconveniente, as preocupações intimas que um natural recato me não permitiria confiar á minha melhor amiga...

Quanto tenho vivido e sofrido no decorrer de todo êste tempo! As linhas que escrevi, da ultima vez, nêste verdadeiro livro de alma, são datadas de 30 de Março de 19..., mêses antes do meu divorcio. Que intolerante eu era, então, na minha inexperiencia da vida, e com que facilidade me irritava por não achar perfeito — como se existisse no mundo a perfeição

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