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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/53

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duma mulher da epoca


Sabado, 17.

Volto, decididamente, a afeiçoar-me a este caderno. Aqui estou já principiando nova página. A minha gata Nina saltou-me agora mesmo para o regaço, onde se ageita ronronando dôcemente. O relogio bate, cadenciado, sobre a mezinha próxima, dez horas da manhã. A Nina ergue o focinho mimoso e segue com o olhar, preocupadamente, o movimento da minha pena. Não posso deixar de acaricia-la... É meiga e friorenta como eu e, como eu, gulosa e voluptuosa. Só não tem os meus ideais e o meu sentimento — porque Deus não lhe proporcionou a faculdade de raciocinar... Em compensação, possue um lindo pelo em manchas alvas e negras, lustroso, longo — e a minha predilecção pelos gatos é de ordem puramente fisica. Gósto destes deliciosos felinos domesticos porque são flexiveis e sedosos e não porque tenha descoberto nêles qualidades de instinto positivamente apreciaveis...

Dêvo ir hoje vizitar meus pais; não os vejo há dois dias. Penso agora, mais uma vez, no que pode ter de estranho, para as pessoas das minhas relações, o facto de eu preferir viver sozinha a habitar na casa pater-

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