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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/70

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Diana de Liz: Memorias


reune na sala de Luizinha, ás segundas-feiras. Estão sempre lá três irmãs, todas loiras e rosadas, que sorriem constantemente a propósito ou, antes, a despropósito de tudo. Fala-se de modas e os seus sorrisos — que lembram os sorrisos fixos de certas mulheres do tablado — acentua-se. A conversação colhe por tema o ultimo e terrificante abalo de terra e as rosi-nhas frescas que são aquelas três bôcas alargam ainda mais as corolas. Por fim, a Luizinha fala do tio Maldonado, que partiu ante-ontem uma perna — e as encantadoras meninas parecem ter acabado de ouvir a mais graciosa das historias...

Perpassou-me hoje pelo espiríto uma tentação sinistra; a dum tríplice assassinio que lívrasse Lisboa do flagelo daqueles sorrisos exasperadores — e, para distrair-me, abri um livro de gravuras e examinei um retrato de Maria Mancini, a morena e ardente sobrinha de Richelieu...

— Devem ser muito estupidas aquelas rapariguinhas — murmurou, ao meu lado, o velho Doutor Russell, que tinha vindo ver o filho da Luizinha — ligeiramente indisposto — e acedera em demorar-se uns minutos naquela assembleia de ociosos. Voltei-me para ele; vi que observava, por cima dos oculos, as tres Graças. E, em legitima defeza do meu sexo, contestei aquela acertada opinião...

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