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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/79

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duma mulher da epoca


negro, pendia-lhe exageradamente para a nuca, deixando a descoberto uma testa horrivel — e o cabelo baço, corredio, mal se via, sumido debaixo da aba larga.

Tive pena daquela rapariga tão completamente despojada de atrativos...

— Nesta pobre mulher — disse comigo, observando-a a furto — nenhum homem demorou ainda um olhar de desejo. Está condenada a desconhecer eternamente a tentação das palavras de amor e a sua bôca esteril, ressequida, nunca saberá dizer a impressão dum beijo apaixonado...

Entrou um homem de meia idade, rosto rubicundo, que apertou a mão á mulher feia.

— Como tem passado? Seu marido ?

— Está bem, obrigada.

— E o morgadinho?

— Vai bem, felizmente.

— Muito estimo. Tudo ás mil maravilhas, não?

Aquele Manuel é uma joia, isso sei eu...

— E é verdade. Não pode ser melhor para mim; preocupa-se mais com a minha saude do que com a dele... E para o filho? Não vê outra coisa!

E sorria, desvanecida.

Sou, na verdade, uma fraca observadora. Tinha-me enganado completamente. Aquela desageitada ra-

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