me; e respondeu com uma simples inclinação da fronte. Sentei-me; dirigi-lhe por vezes a palavra sem obter mais resposta que um sim ou não; afinal conhecendo que ela estava preocupada, esperei calado pelo seu bel-prazer.
Emília leu e releu, talvez já esquecida da minha presença; dobrando o papel, que meteu no bolso, começou a passear pela sala, visivelmente distraída. Por momentos soltava débeis modulações de alguma ária; depois fugia-lhe pelos lábios um sorriso misterioso, desses que se sorriem sem consciência, verdadeiras esfinges d'alma.
Não me pude mais conter:
— Adeus, D. Emília. Vejo que minha presença começa a incomodá-la: é tempo de torná-la mais rara e menos importuna.
— Ah! Já cansou de esperar? respondeu com um ligeiro riso de mofa.
— Já perdi a esperança, confesso-lhe. Já; porque enfim compreendo o que se passa em seu espírito.
— Queria que me dissesse isso! Ficaria sabendo.
— Dir-lhe-ei; por que não? A senhora é de uma bondade extrema e cuida que eu tenho direito à sua gratidão. Conheceu que eu a amava, que esse amor era minha felicidade e minha vida. Pareceu-lhe que recusar-me em troca sua afeição era o mesmo que recusá-la a um pai, a um irmão. Quis amar-me, porque é boa; fez todo o possível para isso, mas debalde... O amor nasce