— Não posso!
— Tem razão! É melhor assim! respondeu sorrindo.
— Então adeus, D. Emília!
Ela derramou sobre mim num só olhar todo o seu desdém, dizendo com voz pausada:
— E me tinha amor!... Pois eu, se o amasse, me desprezasse o senhor embora, eu o acompanharia até aos pés da minha rival para suplicar-lhe as migalhas de seu amor! Eu sim! Mas felizmente para nós ambos, não o amo, e creio agora que não o amarei nunca!
Desatando o passo augusto, deixou-me sepultado naquele desengano cruel.
Não me retirei completamente da casa de Duarte; porém as minhas visitas a pouco e pouco foram sendo mais raras. Era outra vez em casa de D. Matilde que eu me encontrava agora mais freqüentemente com Emília.
Ela, ou de propósito ou porque não tivesse mais reservas a guardar comigo, atirou-se com sofreguidão aos cortejos de sala. Todas as noites a cercava a grande roda dos seus apaixonados, aos quais ela de repente despedia com um gesto ou uma palavra, para atrair novos, que eram logo substituídos.
Eu sofria, assistindo a essa profanação de meu belo ideal, um suplício cruel. Era meu amor que a pouco e pouco se despegava do coração, arrancando-lhe as fibras e escalpelando-o. Quando esse amor fugir de todo, o que me restará de coração? Uma úlcera apenas!..