resignada e contrita; parecia que minha vontade a tiranizava, quando era eu mísero quem suportava a tirania de seus caprichos. Mas ela sentia não sei que íntimo prazer em humilhar-se aos meus olhos; e tinha o talento de, cativando-me o coração e o pensamento, insinuar que obedecia ao mínimo aceno meu.
Sucederam muitos acidentes, como o que te vou referir.
Encomendava ela à sua modista algum elegante vestido, ou comprava qualquer novidade parisiense recentemente chegada. A primeira vez que nos víamos logo me fazia alguma pergunta neste gênero:
— Qual é a cor mais de seu gosto?
Ou então:
— Acha bonita a nova moda de vestidos?
Respondia-lhe com volubilidade, sem dar grande importância à questão. Acontecia às vezes que o vestido era da cor ou da moda não preferida por mim; ela o imolava sem piedade; em folha, como estava, fazia dele presente a alguma moça, ou sepultava-o nos recantos de uma cômoda.
Entretanto o vestido era lindo; e fosse feio, que eu o achara divino, trajado por ela.
Se eu incomodava-me com estes novos caprichos de humildade, tão aversos dos anteriores suspirados no orgulho, e como eles tão imperativos, ela insistia impaciente, e não tolerava da minha parte a mínima observação. Muitas vezes por essa causa nos separamos tristes e magoados.