que eu viesse a amá-la ainda, sinto que teria tão grande asco de mim e uma vergonha tal que me fulminaria como o raio!
Soltei-lhe o braço. Ela deixou-se cair sobre uma cadeira, e, sustendo com a outra mão o pulso magoado, esteve a olhar a nódoa roxa que deixara a pressão de meus dedos. Adejava em seus lábios um sorriso de mártir.
Eu me afastara indignado de minha própria brutalidade. Não te posso explicar o que foi isso. O sarcasmo de Emília irritou-me de uma maneira que ainda agora não compreendo. Seria porque eu ainda a amo, malgrado meu, e sua palavra me denunciara minha própria vileza?
No jantar incomodava-me muito aquela nódoa roxa. Emília estava sentada quase defronte de mim, e a cada momento seu braço volteava em torno dela, talvez que de propósito, e para mostrar a contusão.
— Mila! disse-lhe D. Matilde de longe. — O que tens no braço esquerdo?
— É verdade! acudiu Julinha. — Está roxo. Que foi isso?
— É o sinal da minha cadeia! respondeu Emília sorrindo.
— Que cadeia, Mila? perguntou D. Leocádia.
— Pois não tenho uma pulseira com a forma de um grilhão?...
— Tens, sim.
— Hoje brincando, ela cerrou-me tanto, que pensei me quebrava o pulso!...
— Não deves mais usar dela.
— Por quê? Ela é inocente; a culpa foi minha. Não