D. Leocádia abriu os olhos:
— Não há mais esperança, doutor?
Enxuguei as lágrimas envergonhado, e achei em mim uma energia nova. Lancei mão dos últimos recursos. Um mês arquei com a dissolução que invadia esse corpo frágil, disputando às garras da morte os sobejos de vida, que lhe faltava devorar. Tinha, a pedido do Sr. Duarte, ficado em sua casa; e a isso, a esse cuidado incessante de todas as horas e de todos os momentos, devo o resultado que obtive.
Venci afinal. Mal sabia eu da influência que devia ter no meu destino essa existência, cujos frouxos clarões, prestes a se apagarem, eu reanimara com os lumes de minha alma.
Emília entrou em convalescença. A gratidão do pai foi sincera; sua recompensa generosa. Aceitei a primeira e recusei a última.
— Por quê? me perguntarias talvez.
Era como te disse o meu primeiro triunfo em medicina; trabalhei para ele como o sacerdote de minha nova religião. Por um desses movimentos misteriosos do coração que não se explicam, quis sagrá-lo unicamente à ciência, extreme e puro de todo o interesse pecuniário. Tal foi o motivo de minha recusa, e não mal-entendido pudor de receber a justa remuneração de tão nobre serviço.
Escrevi ao Sr. Duarte pouco mais ou menos o seguinte:
"Foi Deus quem salvou D. Emília; a ele