Página:Diva - perfil de mulher.djvu/37

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— Ao menos a punição é generosa: foge-me o original, mas deixa-me a cópia sua.

Isto foi dito enquanto a menina trocava algumas palavras com uma amiga. D. Matilde esperava o meu cumprimento, e o agradeceu com terno sorriso:

— Antes que me esqueça, doutor — disse-me ela — , nós estamos em casa todas as noites que não forem de baile ou teatro lírico; e nas quintas-feiras com especialidade.

A prima e companheira de infância de Emília era uma moça muito galante. Parecia-se com a mãe somente no rosto: o talhe não o tinha, nem alto nem esbelto, mas admiravelmente torneado.

Julinha nunca foi loureira; faltava-lhe para isso o orgulho de sua formosura, e a inveja da formosura alheia. Mas educada na sala, aos raios da galanteria materna, perdera cedo o casto perfume. Desde menina habituou-se a ser amimada ao colo e beijada por quantos freqüentavam a casa.

Deus a tinha feito nimiamente boa e compassiva; por isso, quando chegou a idade do coração, ela não soube recusar ao amor as carícias, que foram brincos da infância. Suas afeições eram sempre sinceras e leais; nunca traiu nem por pensamento o seu escolhido; mas também se este a esquecia e mudava, ela facilmente se consolava, porque em naturezas como a sua o amor não cria raízes profundas, e só vegeta à superfície d'alma.

Continuei a freqüentar a casa de D. Matilde. Ali,