— Mas escute, doutor...
— O melhor é não falarmos mais disso! atalhei eu.
Emília ergueu-se arrebatadamente.
— Papai, dê-me essa conta! disse ela. Sua mão tremia segurando o papel, que ela devorou com a vista, de pé, junto à mesa.
Tu adivinhas, Paulo, o sentimento e a intenção com que escrevera eu essa conta: seu nome, sua pessoa, sua vida, posso dizê-lo, sua vida de moça bela, rica e adorada, ali estava cotada no mesquinho algarismo! Eu lhe dava plena quitação do seu reconhecimento!
Ela esteve muito tempo a ler; depois as róseas pálpebras, franjadas de longos cílios, desvendaram os olhos, que ela pôs em mim, úmidos da tênue marugem de uma lágrima estalada.
— Sou eu quem devo pagar-lhe! disse-me, vibrando a voz.
E ao mesmo tempo o papel voou em pedaços sobre a mesa.
— Mila!... murmurou D. Leocádia.
Emília atravessou o salão e desapareceu.
— Ela tem razão! disse o pai erguendo-se. — Entre nós, doutor, não há necessidade de contas, nem de recibos. Vou dar-lhe...
— O quê, Sr. Duarte?
— O menos que é possível... as seis cifras.
— É escusado! Já disse... falemos de outra coisa.
Esta cena, que eu acabava de representar,