Eu ia de mistério em mistério. Que significava a estranha confidência de Emília? Que exprimia aquele misto de franqueza e reserva, de placidez e emoção?
Depois de jantar fomos correr a chácara.
A amabilidade, ainda cerimoniosa, mas doce, com que Emília me tratava, foi tão sensível que D. Leocádia a notou, apesar da sua constante bonomia.
— Ah! Já fizeram as pazes? disse-nos a senhora. — Muito bem!
— Nunca estivemos mal, minha tia. Não nos conhecíamos; não é verdade? replicou Emília voltando-se para mim.
A maliciosa e gentil menina, que dirigia o passeio, andava de propósito com extrema rapidez para fatigar a tia: afinal o conseguiu.
— Não posso mais! Estou muito cansada! murmurou D. Leocádia, deixando-se cair num banco de pedra.
Estávamos junto de uma cascatinha, onde tinham arranjado uma gruta, um pequeno lago e outros embelezamentos.
— Venha ver a cascata! me disse Emília.
Acompanhei-a até a margem do tanque; ficávamos a alguns passos apenas de D. Leocádia, porém o rumor das águas que latiam entre as rochas abafavas nossas palavras. Emília esteve a brincar, com umas flores aquáticas que vegetavam nas fendas, saltando de pedra em pedra. Eu vi-a oscilar sobre uma ponta de rochedo coberto de musgos e batido pelas águas.