Página:Diva - perfil de mulher.djvu/98

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a hora da minha ventura. Tudo me anunciava. Essa entrevista alta noite, a solidão que nos cercava, os perigos que Emília afrontara para ir ter comigo, o sereno contentamento derramado por toda sua pessoa, e até a última palavra que proferira invocando a Deus; tudo isto não me dizia bem claro, e com a eloqüência sublime das paixões irresistíveis, que ela me amava?

Pois bem, Paulo; ouvindo a minha trêmula interrogação, Emília demorou seu olhar sobre mim, e disse-me com uma placidez esmagadora:

— Não; não o amo!

Depois, como se quisesse abrandar a dureza dessa declaração, adoçou a voz para acrescentar:

— Não o amo... ainda!

— E nunca me há de amar!

— Por quê?... Escute! Não se agaste comigo. Sou franca; disse-lhe que não o amo ainda, é a verdade. Virei a amá-lo algum dia? Só Deus o sabe. Sente-se aqui perto de mim; vou lhe fazer uma confissão.

Ajoelhei-me junto ao banco.

— De joelhos? Mas eu é que devia estar, pois sou eu quem se confessa! disse ela rindo. — O senhor me supõe um coração frio e egoísta... avaro de amor, como dizia. É o contrário inteiramente. Devia dizer um coração pobre, miserável de amor, mas ambicioso, mas devorado pela sede imensa... Amor! Amor! Não peço eu a Deus todos os dias que me encha dele esta alma? Tivesse-o eu, que lhe dera sem hesitar toda a