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CANTO I

1. Do engenho meu a barca as velas solta

Para correr agora em mar jocundo,

E ao despiedoso pego a popa volta.

2. Aquelle reino cantarei segundo,

Onde pela alma a dita é merecida

De ir ao ceu livre do peccado immundo.

3. Resurja ora a poesia amortecida,

O'Santas Musas, a quem sou votado.

Unir ao canto meu seja servida.

4.Calliope o som alto e sublimado,

Que ás Pegas esperar não permittira

Lhes fosse o atrevimento perdoado.

5. Suave côr de orieltal saphyra,

Que se esparzia no sereno aspeito

Do ar té onde o ceu primeiro gira,

6. Recrea a vista; e eu ledo me deleito

Em surdindo da estancia tenebrosa,

Que tanto os olhos contristara e o peito

7. A bella estrella, a amor auspiciosa

Sorrir alegre faz todo o Oriente.

Vela os Peixes, que a seguem, luminosa.