acudir ás molestias grandes. Padua hesitou muito; afinal, teve de ceder aos conselhos de minha mãe, a quem D. Fortunata pediu auxilio. Nem foi só nessa occasião que minha mãe lhes valeu; um dia chegou a salvar a vida ao Padua. Escutai; a anecdota é curta.
O administrador da repartição em que Padua trabalhava leve de ir ao Norte, em commissão. Padua, ou por ordem regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador com os respectivos honorarios. Esta mudança de fortuna trouxe-lhe certa vertigem; era antes dos dez contos. Não se contentou de reformar a roupa e a copa, atirou-se ás despezas supérfluas, deu jóias á mulher, nos dias de festa imitava um leitão, era visto em theatros, chegou aos sapatos de verniz. Viveu assim vinte e dous mezes na supposição de uma eterna interinidade. Uma tarde entrou em nossa casa, afflicto e desvairado, ia perder o logar, porque chegára o effectivo naquella manhã. Pediu a minha mãe que velasse pelas infelizes que deixava; não podia soffrer a desgraça, matava-se. Minha mae falou-lhe com bondade, mas elle não allendia a cousa nenhuma.
— Não, minha senhora, não consentirei em tal vergonha! Fazer descer a familia, tornar atraz... Já disse, mato-nie! Não hei de confessar a minha gente esta miseria. E os outros? Que dirão os visinhos? E os amigos? E o publico?
— Que publico, Sr. Padua ? Deixe-se disso ; seja homem Lembre-se que sua mulher não tem