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minha

mãe queria ter uma senhora intima ao pé de si, e antes parenta que extranha.

Passeámos alguns minutos na varanda, alumiada por um lampião. Quiz saber se eu não esquecera os projectos ecclesiasticos de minha mãe, e dizendo-lhe eu que não, inquiriu-me sobre o gosto que eu tinha á vida de padre. Respondi esquivo :

— Vida de padre é muito bonita.

— Sim, é bonita; mas o que pergunto é se você gostaria de ser padre, explicou rindo.

— Eu gósto do que mamãe quizer.

— Prima Gloria deseja muito que você se ordene, mas ainda que não desejasse, ha cá em casa quem lhe metta isso na cabeça.

— Quem é?

— Ora, quem! Quem é que ha de ser? Primo Cosme não é, que não se importa com isso; eu tambem não.

— José Dias? conclui.

— Naturalmente.

Enruguei a testa interrogativamente, como se não soubesse nada. Prima Justina completou a noticia dizendo que ainda naquella tarde José Dias lembrára a minha mãe a promessa antiga.

— Prima Gloria póde ser que, em passando os dias, vá esquecendo a promessa; mas como ha de esquecer se uma pessoa estiver sempre, nos ouvidos, zás que darás, falando do seminario? E os discursos que elle faz, os elogios da egreja, e que a vida de padre é isto e aquillo, tudo com aquellas palavras que só elle conhece, e aquella affectação... Note