Página:Dom Casmurro.djvu/91

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he parava á nossa porta, o imperador apeava-se e entrava. Grande alvoroço na visinhança : « O imperador entrou em casa de D. Gloria! Que será? Que não será? «[sic] A nossa familia saía a recebel-o; minha mãe era a primeira que lhe beijava a mão. Então o imperador, todo risonho, sem entrar na sala ou entrando, — não me lembra bem, os sonhos são muita vez confusos,— pedia a minha mãe que me não fizesse padre,— e ella, lisongeada e obediente, promettia que não.

— A medicina,— porque lhe não manda ensinar medicina ?

— Uma vez que é do agrado de Vossa Majestade...

— Mande ensinar-lhe medicina ; é uma bonita carreira, e nós temos aqui bons professores. Nunca foi á nossa Escola? E uma bella Escola. Já temos médicos de primeira ordem, que pódem hombrear com os melhores do outras terras. A medicina é uma grande sciencia ; basta só isto de dar a saude aos outros, conhecer as molestias, combatel-as, vencel-as... A senhora mesma ha de ter visto milagres. Seu marido morreu, mas a doença era fatal, e elle não tinha cuidado em si... E uma bonita carreira; mande-o para a nossa Escola. Faça isso por mim, sim? Você quer, Bentinho?

— Mamãe querendo.

— Quero, meu filho. Sua Majestade manda.

Enlão o imperador dava outra vez a mão a beijar, e saía, acompanhado de todos nós, a rua cheia de gente, as janellas atopetadas, um silencio d