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DOM JOAO VI NO BRAZIL 285

typico Tartarin de Tarascon, que em todo homem coexis- tem o leao e o coelho, o instincto das aventuras e o instincto domestico, o espirito de fantasia e o espirito de socego : na variacao das proporgoes e que deve residir a variagao dos temperamentos. Nao fazia Dom Joao VI excepgao a essa regra psychologica e, o que melhor e, com favonear os de- sejos regios da consorte, satisfazia ambos os sentimentos em conflicto intimo : o prosaico, libertando-se da megera que o atormentava, e o idealista, realizando um velho sonho real portuguez, o de reunir as descobertas debaixo do mesmo sceptro.

Assevera o Hespanhol Presas, pelo proprio Principe Regente posto ao servigo de Dona Carlota para ir promo- vendo o grande negocio, que, afigurando-se-lhe perdidas as esperangas sequer da soltura do monarcha legitimo, resol- vera Dom Joao apresentar a esposa as colonias hespanholas e ao mundo como a natural herdeira no ultramar da coroa de Sao Fernando. A quelle aventureiro, que de Buenos Ay- res fora dar com os ossos no Brazil e a quern os aconteci- mentos guindaram a secretario intimo da Princeza contra a qual mais tarde exerceria a sua tentativa de extorsao pe- cuniaria, de que resultou a publicac/ao das Memorias Se- cretas, teria sido confiada a redaccao do alludido manifesto, assim como a traducgao, por conta do almirante sir Sidney, fundamente interessado no piano, das proclamacoes e outros documentos emanados da Junta de Sevilha, no intuito de serem disseminados pela America Hespanhola e estimularem o patriotismo colonial, com o que alias so podiam lucrar os projectos emancipadores do governo britannico.

Previne-nos com muita razao o escriptor Paul Groussac contra o perigo dos depoimentos singulares, lembrando-nos

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