Página:Echos de Pariz (1905).pdf/104

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essa região é offender a França, o recusar o convite seria, pelos mesmos motivos, insultar a Allemanha. Tudo isto é indiscutivel. Mas o patriotismo, como o amor, não se raciocina, quando ferido. Para os francezes, a Alsacia e a Lorena são duas terras francezas que gemem sob a oppressão. E o facto do principe de Italia vir caracolar sobre esse solo vencido e dorido, ao lado do oppressor, é, para os francezes, uma affronta incomparavel. De sorte que uma reconciliação entre a França e a Italia é hoje quasi impossivel, tanto mais que ás questões de politica se juntam questões de dinheiro (sempre irritantes) e a estas ainda uma outra questão sentimental de gratidão, mais irritante que a de pecunia.

Com effeito, a França pretende que a Italia esteja para com ella n’um perpetuo e enternecido estado de gratidão. E esta exigencia da França tem o condão de enervar a Italia — de a enervar até ao desespero. É um facto psychologico bem conhecido (e Labiche superiormente o pintou n’uma das suas comedias geniaes) que o libertado sente sempre um secreto tedio pelo libertador. Mas quando o libertador constantemente e garrulamente cita, lembra e celebra o beneficio da libertação — não é tedio então, é intenso e vivo odio que o libertado começa a nutrir pelo heroe que o libertou. É bem natural — porque o fraco não póde esquecer que o apoio trazido pelo forte foi uma demonstração publica e apparatosa da sua fraqueza. Todos aquelles que Hercules outr’ora veiu salvar, com