Página:Echos de Pariz (1905).pdf/206

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Em todo o caso, por todos os motivos, Humberto é dos poucos reis interviewaveis. É um rei que quer e que póde. E não é todavia bastante de direito divino, para se considerar um emissario da Providencia, e, como ella, esconder os seus designios, que só por ella pódem ser comprehendidos ou julgados. Ao rei Humberto é permittido dizer: «Eu farei isto, as minhas intenções são estas...» A sua auctoridade na nação comporta estas affirmações pessoaes e soberanas. Qualquer outro rei, strictamente constitucional, quando atacado por um reporter, só poderá encolher os hombros e murmurar: «Não sei, veremos o que faz o ministerio...»

Ha, pois, apparentemente, utilidade para um reporter de alta reportagem, em sondar e puxar para fóra o pensamento intimo do rei Humberto. A difficuldade unica estaria na operação da sondagem — porque, apesar de se ter supprimido a hirta e encarceradora etiqueta do tempo de Carlos V, os reis ainda não são accessiveis a qualquer sujeito de chapéo côco que se apresente com uma carteira e um lapis, a «fazer perguntas». Mas o Figaro, barbeiro astuto, acostumado desde a sua mocidade a deslisar subtilmente pelas portas escusas e a penetrar no segreda dos Bartholos, realisou esta bella façanha — e interviewou o rei Humberto. E quando elle annunciou, rufando ufanamente o seu grosso tambor, que ia publicar as declarações do rei de Italia, a Europa, excitada, aguçou vorazmente as suas longas orelhas. Com effeito, que maravilhosa