das reputações contemporaneas, é por isso que, estando de fóra, posso como ninguem avaliar a figura, a destreza e o garbo ainda dos mais luzidos chefes do glorioso esquadrão. Posso tambem fallar livremente. E não é esta uma pequena superioridade neste tempo de conveniencias, de precauções, de reticencias—ou, digamos a cousa pelo seu nome, de hypocrisia e falsidade. Livre das vaidades, das ambições, das miserias d'uma posição, que não pretendo, posso fallar nas miserias, nas ambições, nas vaidades d'esse mundo tão extranho para mim, atravessando por meio d'ellas e sahindo puro, limpo e innocente.
A este primeiro motivo, que é um direito, uma faculdade só, accresce um outro, e mais grave e mais obrigatorio, porque é um dever, uma necessidade moral. É esta força desconhecida que nos leva muitas vezes, ainda contra a vontade, ainda contra o gosto, ainda contra o interesse, a erguer a voz pelo que julgamos a verdade, a erguer a mão pelo que acreditamos a justiça. É ella que me manda fallar. Não que a justiça e a verdade se offendessem com v. ex.ª ou com as suas apreciações. Verdade e justiça estão tão altas, que não têm olhos com que vejam as pequenas cousas e os pequenos homens das infimas questiunculas litterarias d'um ignorado canto de terra, a que ainda se chama Portugal.
Não é isso o que as offende. Mas as idéas que estão por de trás dos homens; o mal profundo que as cousas apenas miseraveis representam; uma grande doença moral accusada por uma pequenez intellectual; as desgraças, tanto para reflexões lamentosas, d'esta terra, reveladas pelas miserias, tão merecedoras de despreso, dos que cuidam dominal-a; isso é que afflige excessivamente a razão e o sentimento, o que prende o olhar ainda o mais desdenhoso a estas baças intrigas; isso é que levanta esta questão do raso das personalidades para a elevar até á altura d'uma questão de principios, e que dá ás ridiculas chufas, que entre si trocam uns tristes litteratos, todo o valor d'uma discussão de philosophia e de historia.
Sim, ex.mo sr. Eu não sei se v. ex.ª tem olhos para ver tudo isto. Cuido que não: porque a intelligencia dos habeis, dos prudentes, dos espertissimos é muitas vezes