ao esphacelamento do seu caracter; indole viperina, reservado, como o rancor de cego, bifronte como o deus antigo cujos fastos ainda commemora, não tem, não tem direito a esta sagração que vae sanctificando a edade e o trabalho.
Elle apparece-nos como Chiron ensinando o mysterio da força aos que o cercam, mas é n'isto que está o attentado á arte, ensinando uma rotina arcadica, palavrosa, nulla de idéas, de sentimentos falsos, que já se nota na mocidade, que o admira. Sobre tudo a má fé, é o que mais depressa se communica; um critico chama ingrato a um auctor, que preoccupado com o seu trabalho não soube, nem teve tempo para ir agradecer-lhe as inepcias; e promette verberal-o, alludindo fóra de proposito á sua nebulosidade. Cada vez me convenço mais do celebre dito de Pope, que se pode applicar á maioria dos que escrevem: «Que um mau escriptor é sempre um mau homem.»
Um dos argumentos do auctor das Cartas de Ecco e Narciso, contra este movimento e esforço para dar ideal á poesia, é o falar da plastica e da Esthetica como coisas futeis, e tanto, que os grandes poetas antigos não as conheceram. Homero, Dante, Virgilio, todos os genios de todos os tempos não sabiam o que era Esthetica? Seguramente o sr. Castilho acostumado a rimar palavras e ensacar periodos em arrendondadas periphrases, tomou só a palavra Esthetica, creada por W. Hamilton (Lectures on metaphysics, t. I) por que não se quiz dar ao trabalho de comprehender o que esta designação contém. Ha na natureza do homem o poder de determinar a generalidade das coisas, de descobrir n'ellas o ponto em que a vontade de todos se harmonisa, a força mysteriosa de harmonisar o mundo, o sentimento do bello, o ideal; mas a este dom sublime anda tambem adjunto o poder de dar fórma, trazer á realidade da vida os sentimentos