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Página:Encarnação.djvu/77

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Estava aberta uma das janelas, e o sol entrando pela sala chamejava nos espelhos e cristais. A claridade impacientou Amália; estava triste, e achava insuportável essa alegria do céu que vinha importuná-la. Ergueu-se para fechar a janela, onde a esperava uma surpresa.

Hermano, de pé, à sombra de uma árvore, escutava o canto, em profundo recolhimento. Sua fisionomia denotava que ainda depois de ter cessado a voz, ele ouvia dentro d´ alma o eco, e esperava o seu retorno. Tinha na mão um jornal e estava sem chapéu, como quem fora surpreendido em casa, a meio da leitura, e viera pressuroso, não lhe importando sair de cabeça descoberta.

Quando Amália recobrava-se da emoção, Hermano erguia a fronte; pela primeira vez o olhar doce, profundo e exuberante desse homem encontrou o seu; e subjugou-a.

Ela estremeceu como se recebesse um insulto; e arrebatadamente, num assomo de cólera, bateu a janela.

O que ela sentia era não ser homem para nesse mesmo instante precipitar-se do sobrado, saltar o muro, e açoitar as faces daquele insolente.